Primeira evidência de vida na Terra confirmada em rocha de 3,3 bilhões de anos

0
26

Uma nova investigação revelou os primeiros vestígios químicos definitivos de vida na Terra, detectados em formações rochosas com 3,3 mil milhões de anos na África do Sul. A descoberta, publicada num novo estudo, atrasa a linha do tempo documentada para o surgimento da vida, confirmando que os processos biológicos estavam activos no nosso planeta muito antes do que se pensava anteriormente.

O desafio das antigas bioassinaturas

Detectar vida há bilhões de anos é notoriamente difícil. Ao longo de imensas escalas de tempo geológicas, o material orgânico degrada-se e distinguir assinaturas biológicas de processos não biológicos torna-se quase impossível. A vida inicial teria consistido em organismos microscópicos cujos restos físicos foram dramaticamente alterados ao longo de bilhões de anos. Embora formações como os estromatólitos sejam interpretadas como restos de esteiras microbianas, confirmar a origem biológica sempre foi um desafio.

Um avanço no aprendizado de máquina

Uma equipe liderada por Robert Hazen, do Carnegie Institution for Science, superou esse desafio aplicando aprendizado de máquina para analisar vestígios antigos de carbono. Os pesquisadores treinaram um algoritmo para identificar padrões químicos sutis, mas distintos, exclusivos das moléculas biológicas. Esta abordagem permitiu-lhes detectar “ecos” da vida mesmo em amostras altamente degradadas onde os métodos tradicionais falham.

Como funciona a pesquisa

A equipe analisou 406 amostras, variando de organismos modernos a fósseis antigos, usando uma técnica chamada pirólise-cromatografia gasosa-espectrometria de massa (Py-GC-MS). Este método decompõe o material orgânico em fragmentos, separa-os e mede as suas assinaturas de massa. O modelo de aprendizado de máquina procurou padrões bióticos, alcançando uma taxa de precisão superior a 90%.

Principais descobertas

A amostra mais antiga identificada positivamente como biológica data de 3,33 mil milhões de anos, encontrada no Chert Josefsdal, na África do Sul. Isto confirma que a vida surgiu e se espalhou neste ponto da história da Terra. Os investigadores também identificaram as evidências mais antigas de fotossíntese até à data em rochas com 2,52 e 2,3 mil milhões de anos de idade na África do Sul e no Canadá, respetivamente.

Implicações para a Astrobiologia

Esta pesquisa tem implicações significativas para a busca por vida fora da Terra. Ao demonstrar a capacidade de detectar bioassinaturas fracas em rochas antigas, fornece uma nova ferramenta para identificar vida noutros planetas. O estudo sugere que mesmo vestígios biológicos altamente degradados podem ser identificados utilizando técnicas analíticas avançadas.

O futuro da detecção de bioassinaturas

Como explica Robert Hazen: “As rochas mais antigas da Terra têm histórias para contar e estamos apenas começando a ouvi-las”. Este estudo representa um grande avanço na nossa capacidade de descodificar as assinaturas biológicas mais antigas da Terra. Ao combinar análises químicas poderosas com aprendizagem automática, os cientistas podem agora ler “fantasmas” moleculares deixados para trás pela vida precoce e que ainda sussurram os seus segredos depois de milhares de milhões de anos.

A investigação sublinha o potencial de identificação de vida mesmo nos ambientes mais desafiantes, tanto na Terra como fora dela. As descobertas sugerem que a vida pode ser mais resiliente e difundida do que se pensava anteriormente, oferecendo uma nova esperança na busca contínua por vida extraterrestre.